Baby, be brave!

Coragem
Nem todo ato de força física é ato de coragem, tampouco todo o enfrentamento o é.

Nunca tive atos de força física, sobraram-me enfrentamentos. Mais que enfrentamentos, contudo, eu diria, sobraram-me posicionamentos… E posicionamentos firmes. E, na opinião de alguns, é preciso ter coragem para isso. Mas eu, particularmente, não chamaria isso de coragem. Isso é personalidade. Eu fui criada para e tenho uma personalidade forte. Extremamente forte.

Coragem sem culpaÉ um ato de coragem ir a uma entrevista de emprego de batom vermelho como eu fui? Não creio, é personalidade. A mesma personalidade que me levou a começar a usar batom vermelho em 2016, aos 14 anos, quando nem estava na moda (era o auge do brilho labial, a propósito).

É um ato de coragem falar na cara daquele colega que implica com você o tempo todo que você está de saco cheio dele e que ele deveria se ocupar de outras coisas que não a vida alheia? Para mim, ao menos, não, pois a mim nunca foi adequado papel de vítima. E olha que fui bastante sacaneada (nerd porém patricinha, estereótipos totalmente opostos em uma só pessoa, prazer) nos tempos de colégio, mas sempre revidei verbalmente à altura e sempre fui um tanto temida por isso.

É um ato de coragem enfrentar o professor comunista em uma turma em que você é a única não-esquerdista convicta? Talvez, pois é ele quem corrige suas provas. Ainda assim é muito mais um ato de personalidade, visto que você assume ideias destoantes diante uma plateia muitas vezes hostil.

Há contudo dois pontos em minha vida que vejo como pontos em que precisei/preciso de coragem, verdadeiramente dita.

Romper uma amizade de muitos anos quando a convivência com aquela outra pessoa passa a te fazer mal? Um ato de coragem, sem dúvidas, uma vez que enfrentamos o afeto que a memória insiste em manter. Não é fácil cortar laços quando há fortes e boas lembranças, mas é tão prejudicial em nome disso se manter próximo de alguém que já é não é mais a mesma pessoa de quem se tornou amiga… E é preciso ter uma coragem, uma força interior enorme para romper antes que a consideração se torne uma mera e falsa formalidade.

Penso, todavia, que meu maior ato de coragem não foi, ele é. Escrever é por si só um ato de coragem. É uma forma de expor sentimentos, de expor ideias, de se abrir para o mundo. Quando escrevo sobre política e economia isso talvez seja mais nítido, pois se trata de algo que, além de um público alvo, tem também um grande público que se opõe e se manifesta ora com firmeza digna, ora com xingamentos ordinários. Por outro lado, ao escrever ficção, meu grande prazer e válvula de escape, exponho sentimentos por meio das personagens que tão cuidadosamente criei justamente para expor as tantas matizes do ser humano, as tantas matizes que, se eu procurar bem, encontrarei até em mim mesma. Mais que isso, escrever requer coragem porque podemos não ser lidos e, para quem escreve, não há frustração maior que essa.

Em suma, coragem, como tantas outras variáveis de nossa vida, é algo especialmente peculiar e particular, pessoal e intrasferível, individual. Expor ideias e sentimentos, contudo, sempre requer coragem. E personalidade.

PS: Esse post faz parte da postagem coletiva de abril do Vai Um Café, com o tema “Meu Maior Ato de Coragem”.

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16 thoughts on “Baby, be brave!

  1. femariaotoni says:

    Muito bom o post …
    Amei cada detalhe, acho que amei todos os posts alias que li da blogagem coletiva alias eheheee
    Acho que cada um de nós tem o seu momento, seu ato de coragem né e é vivenciado de formas diferentes realmente e sim, é dificil mesmo se desfazer um laço mesmo uma amizade é duro sim e é preciso coragem..
    Texto escrito lindamente
    Abraço grandeeee

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    • Thais Gualberto says:

      Obrigada, Fernanda!! <3 <3 😀 Ainda não li os posts, mas o farei ao longo do final de semana e estou certa de que irei gostar do que irei ler 🙂
      Beijos e lindo final de semana!!

  2. Priscila Gonçalves says:

    Que lindo amore! Deu até uma invejinha, queria ter tido coragem de brigar quando mais nova, sempre sobrevivi apenas suportando, tinha uns 26 anos quando briguei pela primeira vez e me senti tão livre hehe
    Realmente, escrever é um ato lindo de coragem, colocar num papel todo o seu sentimento, criar situações que com certeza vao mexer com alguem. Esse medo de nao ler lido só posso dizer que é o medo mais fofo q existe rs Pq quando começa a ser lido e elogiado vc ri de si própria. Com muita coragem a gente vai realizando nossos sonhos.
    Beijo grande e lindo texto floooor

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    • Thais Gualberto says:

      Obrigada, Pri!! <3 Sabe, eu me seguro muito para não discutir, então quando acontece, é porque eu já estava no limite havia algum tempo... E sempre é maravilhoso quando explodimos em um momento apropriado (incapaz de nos prejudicar rs).
      Ainda passarei lá para ler o seu!
      Beijos!

      • Priscila Gonçalves says:

        Sim, explodir em momentos apropriados, isso q preciso. Felizmente essa semana consegui dar um passo em uma situação chata n trabalho sem brigar, na verdade conversei com a chefe mor e passei a bola pra ela me ajudar a resolver. Essas coisas me deixam feliz
        Beijo grande

  3. Bruna says:

    Acho que coragem, se unida a personalidade e ao desejo da pessoa em questão, vira uma coisa forte e poderosa. Nem todos sabem usar essa tal de coragem para algo bom, mas é o desejo mútuo (força e razão) que leva tudo além.
    Estou adorando ler as postagens desse mês, uma mistura muito bacana e um tema ótimo a ser discutido!
    Abraços

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  4. Grazy Bernardino says:

    Oi Thais! Quando cursei a faculdade de História me posicionei muito contra a postura comunista de alguns dos professores, incluindo o coordenador do curso. Minha posição me custou muito, mas não arredei o pé. Fiz minha pesquisa sobre moda e consumo e mantive ela firme mesmo diante de muita oposição. Hoje sou feliz com as escolhas que fiz e por me manter com as ideias que sempre defendi. Adorei seu texto!

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    • Thais Gualberto says:

      Grazy, que ato de coragem, hein! Não creio ser uma coincidência, mas todas as pessoas que conheço que enfrentaram professores universitários/coordenadores de curso/orientadores pagaram caro por isso e, como você, não se arrependem, felizmente. Acho que o problema está nesses sujeitos mesmo, que, achando-se senhores da verdade, não aceitam opiniões divergentes, tampouco linhas de pesquisa distintas das deles. Parabéns por não ter permitido que eles se interpusessem em seu caminho e impactassem suas escolhas!

      Beijos e excelente feriado!

  5. Beatriz Aguiar says:

    Uau, tô aqui arrepiada. Posso falar que amei ler um post teu tão pessoal? Escreva mais, sempre mais! ♥
    E me vi tanto aí, acho que a gente é bem diferente (principalmente visões políticas! haha) mas ao mesmo tempo que somos tão parecidas. Sabe o que é o mais legal? Eu também rompi uma amizade muito importante que me fazia mal (já conversamos sobre isso né?), e depois de anos: ela voltou e me faz bem outra vez! Como disse Renato Russo “o tempo é o mercúrio cromo” 😀
    Quando comecei a escrever não conhecia ninguém da minha cidade que escrevesse textos fictícios e pessoais, que tivesse um blog mais voltado pra escrita mesmo. No início tive um pouco de receio porque já comecei logo escrevendo coisas pessoais e me preocupava um pouco sobre o que iriam ‘pensar’ disso, sabe?

    Mas hoje depois de 2 anos e alguns meses poder ter, o mínimo de reconhecimento que seja por meio de uma parceria ou de alguém que me acompanha, é algo imensamente gratificante que todo o medo do início parece ser tão bobo! Mas aí que está o maior ato de coragem: não esmorecer diante dos medos e isso nós fazemos muito bem… ESCREVENDO!

    Siga adiante minha amiga escritora. Tenho muito orgulho de você!
    Um beso!

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    • Thais Gualberto says:

      Obrigada, Bia! <3 Aliás, admiro muito que, apesar de nossas visões políticas bem distintas, conseguimos separar as coisas e apreciar o conteúdo que a outra produz. Nem todo mundo consegue e sei bem que muita gente jamais leria quaisquer dos meus escritos se conhecesse minhas convicções políticas, o que é bastante imbecil, convenhamos. Então, mais uma vez, obrigada! <3

      Acho que já conversamos bastante sobre isso de amizade rompida e é sempre um prazer debater essas coisas que temos em comum. Não acho que no meu caso a pessoa voltará a me fazer bem, mas, enfim, só tempo dirá... rs

      De escrever ficção, mesmo quando tendo toques pessoais sempre (pois é inevitável), nunca tive muito receio, mas quanto a escrever sobre política... hahaha Sempre bate aquele medinho de "e se alguém que eu conheço fica muito possesso com o que escrevi e resolve armar uma emboscada e tals?"; "Isso que escrevi irá me prejudicar na hora de procurar um emprego"? Graças a Deus, nada disso jamais aconteceu e inclusive já abriu algumas portas (tenho um blog de política e economia em um site liberal/conservador com cerca de 20 mil seguidores no facebook).

      Hoje não tenho tido muito tempo para escrever, muito por conta das demandas do meu trabalho "de fato", coisas que tenho de estudar para me aperfeiçoar na minha profissão, muito pelo cansaço causado pelo trânsito de cada dia, o que me entristece muito, mas continuo amando e necessitando escrever... E não há nada melhor que se sentir lida e ler os comentários a respeito, compartilhamentos, tudo... Ser reconhecida por algo, ainda que por poucos é sempre maravilhoso 🙂 <3

      Obrigada sempre pelo incentivo! <3
      Beijos!

  6. joydaviz says:

    Lindo, Thais. Gostei muito do seu ponto de vista sobre ser corajoso. E, concordo que muitas vezes não é coragem e sim a personalidade que nos faz ter alguns enfrentamentos. E por falar em personalidade, deu para perceber no texto que você tem muita! Admirável!
    Bj ♥

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