Resenha: A Garota no Trem

Todas as manhãs, Rachel embarca no trem das 8h04min rumo a Londres. Durante a rotineira viagem, Rachel sempre presta muita atenção em seu trajeto, sobretudo no trecho em que todos os dias acompanhava um pouquinho da vida de um belo casal que batizara de Jess e Jason. Um dia, contudo, uma estranha cena chama a atenção de Rachel e, poucos dias depois do episódio, Rachel descobre que Jess, que na realidade chama-se Megan, está desaparecida. Estou falando de A Garota no Trem, de Paula Hawkins, livro que em breve estreará nos cinemas com Emily Blunt como Rachel.

Editora: Record
Páginas: 375
Onde encontrar: Saraiva (está na promoção!)

A característica peculiar mais imediatamente notável da narrativa é o enredo não linear, que alterna tanto passado com presente; a segunda, o fato de que todos os personagens, de alguma maneira e por distintos motivos, são psiquiatricamente perturbados e de um modo bastante veemente. E aí está a “graça” do livro: a vida conturbada dos personagens contribui fortemente para o suspense que permeia toda a obra, bem como a maneira engenhosa como os fatos desenrolam-se de maneira a que saibamos as motivações por trás dos tormentos de cada personagem. E, obviamente, Rachel (e seus próprios medos e dramas) descobre-se uma peça fundamental para a resolução desse intricado quebra-cabeças que une todos os personagens da trama.

Tratando-se de um bem elaborado thriller psicológico, muitos comparam a obra de Hawkins a “Garota Exemplar”, de Gillian Flynn, que eu já resenhei por aqui. Particularmente, não penso assim. Na obra de Flynn temos uma personagem cujo transtorno nitidamente é a sociopatia, o que não conseguimos afirmar antes do último quarto de A Garota no Trem. E enquanto o mistério e a tensão para mim permanecem até a última linha de Garota Exemplar, o mesmo não se dá no best seller de Hawkins. Antes da metade do livro comecei a suspeitar daquilo que se revelou como o desfecho da história. Assim, eu diria que a sensação de apreensão foi bem maior lendo Garota Exemplar que lendo A Garota no Trem, cuja protagonista, na maior parte do tempo, aborrecia-me profundamente por sua fraqueza diante todo e qualquer problema.

A verdade é que embora o livro seja fantástico, todas as personagens irritaram-me profundamente. Ainda que todas tenham sido brilhantemente construídas e com seus dramas bem delineados, explorados e explicados, sinto-me desconfortável diante tantos personagens psicologicamente fracos em um só livro. Entendo perfeitamente que isso é parte fundamental do livro, afinal, é a perturbação constante de cada personagem que nos faz desconfiar de todos e de ninguém ao mesmo tempo, porém não consigo não ficar aflita diante uma densidade demográfica tão elevada no que diz respeito à perturbação mental. Mais que isso: nunca tinha lido um livro em que todos os personagens fossem tão severamente perturbados.

Particularmente, considero A Garota no Trem uma excelente e altamente recomendável leitura para os que amamos o suspense, visto que conseguiu prender minha atenção desde as primeiras páginas e manteve-me atenta e voraz na leitura até o fim (que eu consegui antever com enorme antecedência). Por outro lado, as perturbações de Rachel e Megan (sobretudo a de Rachel) deixam-me profundamente irritada, embora seja bastante interessante o exercício de tentar desvender as causas de seus dramas antes que estas nos sejam reveladas no decorrer da obra, de modo que avalio o romance como um 9.5/10. Ainda não assisti o filme, mas acredito que será bastante interessante, pois nesse tipo de história as imagens ajudam muito a intensificar a tensão que permeia todo o enredo. A propósito, eu gostaria muito de falar mais sobre o livro, mas como temo revelar spoilers para quem não o leu/assistiu, vou parar por aqui…

Thaís Gualberto

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2 thoughts on “Resenha: A Garota no Trem

  1. Beatriz Aguiar says:

    Poxa, “A Garota Exemplar” eu assisti ao filme e não gostei. Não sei porquê mas não me convenceu de algum modo. Tenho certeza que o livro deve ser brilhante!
    Eu estava curiosa com “A Garota no Trem”, tanto que ele estava há muito tempo na minha lista de desejos do site da Saraiva, mas retirei faz umas duas semanas. Esse lance de presente e passado me incomoda um pouco às vezes. Masss, em contrapartida, estou lendo “A Caixa de Pássaros” que segue essa mesma narrativa e estou amando. Talvez por ser muito bem encaixado. Segue mais ou menos um capítulo presente, um no passado, um no presente, outro no passado. E não está cansativo.
    Mas, pelo fato de ter lido há um tempo atrás um livro que tratava de problemas mentais e ter me traumatizado por ser uma leitura cansativa, desanimei.
    E agora vendo a tua resenha, imagino que não seria o meu livro favorito. Acertei em tê-lo tirado da minha wishlist! Sobre o filme, estou curiosa para assistir pois o enredo parece ser bem interessante mesmo. 🙂

    Um beijo, Thaís. Adorei a resenha!

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