Resenha: Como Falar com Um Viúvo

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Como falar  com um viúvo? Essa certamente é uma pergunta que muitos  já se fizeram e poucos sabem responder. Em geral, sentimo-nos constrangidos em falar qualquer coisa, porém compelidos a proferir palavras de consolo que nunca consolam apesar de demonstrar nossa cortesia. Contraditório, não? Mas é exatamente assim (cheio de contrariedades) que se sente Doug Parker, o ilustre protagonista da excelente tragicomédia “Como Falar com um Viúvo”, de Jonathan Tropper.

A vida de Doug simplesmente pára quando a esposa dele, Hayley, morre em um desastre aéreo. Um ano depois, ele continua trocando o dia pela noite, se embebedando e evitando o contato com outros (sim, Doug não olha nos olhos de quase ninguém). Nem mesmo no quarto ele alterou qualquer coisa além da roupa de cama:  o sutiã continuava pendurado na maçaneta da porta; o livro, sobre o  criado-mudo, e até os fofíssimos coelhinhos felpudos em seu quintal o irritam (sorte dos pobrezinhos que Doug tem uma péssima pontaria!).

Não bastasse isso, o pai de Doug, antes um médico durão e pouco afetuoso, sofreu o AVC e, embora aparentemente perfeito, perdeu a noção de tempo, não lembra quase nada e comporta-se de maneira um tanto insana, o que muitas vezes o faz demonstrar um voraz apetite sexual pela esposa, uma ex-atriz que continua a agir como se estivesse em um palco. A irmã mais nova de Doug, a certinha Debbie, está preste a se casar com um amigo do irmão que ela conheceu no velório da cunhada, o que é para Doug imperdoável. E o enteado de Doug de 16 anos, Russa, vive se metendo em confusões com carros, álcool e baseados. E a situação só piora quando a gêmea mandona e algo ardilosa de nosso protagonista resolve abandonar o marido ao se descobrir grávida e se mudar para a casa do irmão, decidida a tirá-lo do luto e a apresentá-lo a outras mulheres.

Mais que isso, ao longo dessa excelente história narrada em primeira pessoa encontramos numerosos trechos memoráveis; tanto contemplativos, nos quais Doug expõe suas reflexões sobre a morte de sua amada (sobretudo na coluna “Como falar com um viúvo”, que ele escreve para uma revista masculina), como cômicos (até mesmo quando dramáticos). Assim é impossível não parar para refletir a respeito de várias dessas passagens, sobretudo as que exploram as diversas matizes e momentos que constituem o sentimento de perda e o medo de se envolver por medo de esquecer e de perder outra vez. Para alguém que gosta de explorar o sentimento de perda nas próprias obras (meu caso!), são excelentes os insights apresentados na deliciosa trama de Tropper. Destaco ainda que são várias as encrencas em que Doug se envolverá (geralmente por culpa de terceiros) ao longo de sua jornada rumo a retomar a normalidade da vida, mas não darei spoilers e que de longe essa foi a melhor comédia que li em muito tempo (igualando-se a “O Chá de Bebê de Becky Bloom”, de Sophie Kinsella, que li há uns 6 anos). Eis algumas excelentes frases:

A dor é meu último vínculo com Hailey, e, por mais forte que eu seja, eu me abrigo nela como num cobertor […] Não estou pronto para deixar que o tempo cicatrize essa ferida, mas também sei que sou impotente para detê-lo”

“Você quer seguir em frente, mas para isso é preciso deixá-la para trás, e você não quer deixá-la para trás, por isso, não segue em frente”

“… as pessoas se tornam possessivas em relação à própria dor, quase orgulhosas”

“Ainda não consigo lidar com multidões, rostos conhecidos me cumprimentando com a cabeça e sorrindo […] Não quero a piedade deles. Não quero exibir minha dor na vitrine mais uma vez para todos verem”

Não citei nenhuma das frases comédia porque a maioria delas daria spoilers e esse livro vale muito a pena ser lido! Enfim, esses foram os R$ 9.90 mais bem gastos em um livro que já paguei! haha Sim, eu o comprei na feira de livros da Editora Arqueiro na Lojas Americanas, em que vários títulos estavam por míseros R$9.90…

Nota: 10/10, é claro! 😀 😀

Thaís Gualberto

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