Resenha: Demi Lovato – Tell Me You Love Me 

Demi Lovato - Tell Me You Love Me

Lançado em 27/10,  “Tell Me You Love Me” é o mais recente álbum da cantora americana Demi Lovato. Para esse trabalho, Demi apostou em seu mekhor: os vocais. Sim, em tempos de electropop e assobios artificiais nos arranjos, TMYLM é um álbum verdadeiramente Vocal Pop, com forte influência R’n’B e Demi mostrando o melhor de suas extensão e potência vocal, criando o seu mais coeso álbum até a data (ao menos em termos de melodia) e indo em direção totalmente oposta a de seu trabalho anterior, “Confident”.

O encarte que acompanha o CD é bastante simples, com poucas, porém bonitas, fotos em preto e branco da cantora e também com as letras de todas as faixas. O destaque fica por conta da arte do disco em si que, sobre o fundo preto, traz bem desenhadas rosas em um tom cinza escuro (imagino que fazendo alusão a tatuagem de rosas de Demi).

Sorry Not Sorry: Primeiro single do álbum, “Sorry Not Sorry”, lembra o R’n’B do começo dos anos 2000 (Destiny’s Child, talvez?) e não me conquistou à primeira audição justamente por eu achar demasiadamente R’n’B. Pois bem, a música grudou e eu prestei atenção na letra (vingativa, puro ódio haha) e nos vocais da Demi e concluí que a faixa é simplesmente INCRÍVEL! E excelente escolha para um primeiro single, já que é enérgica e contagiante. E óbvio que já a dediquei a alguma personagem… A versão acústica presente como bônus da edição Deluxe do álbum é simplesmente fantástica.

Tell Me You Love Me: Faixa título do álbum, TMYLM é uma súplica, uma demonstração quase obsessiva de amor (ou seria desejo nesse contexto?), na qual a potência vocal de Demi incorpora toda a intensidade da letra e, em performances ao vivo, chega a arrepiar. Interessante notar também que a música é claramente influenciada pelo gospel americano, com um coro quase transcendental ao fundo. Na versão do álbum, a introdução remete à “Confident“, faixa título de seu ábum de 2015, enquanto no live para o Vevo a introdução é tocada em um órgão.

Sexy Dirty Love: Música mais pop do cd e uma das mais divertidas, inicia-se com uma batida elástica, com Demi soando atrevida e lasciva, em uma demonstração mais superficial e bem-humorada de obsessão que na faixa anterior. Tenho o ligeiro pressentimento de que esta música será um dos singles e do álbum e que, se assim for, será mais um êxito na carreira de Demi. A música ainda me lembra de ritmos dos anos 80, então é óbvio que amei… <3

You Don’t Do it for Me Anymore: Uma das mais pungentes baladas da carreira de Demi (não supera “My Love is Like a Star“), é uma música em que a cantora reflete sobre os próprios vícios e dificuldades que enfrentou ao longo da vida. E mais uma grandiosa demonstração de sua capacidade vocal. Em algumas notas e acordes, lembra-me de “Stay“, na versão da Delta Goodrem.

Daddy Issues: Mais um momento pop do álbum, mais um momento totalmente oitentista. Aqui temos a narrativa de uma jovem apaixonada por um homem muito mais velho e como os problemas dela com o próprio pai influenciam a relação e como ela é obsessiva pelo companheiro.

Ruin the Friendship: Demi aqui soa mais suave e tranquila que em outras faixas, acompanhada por um arranjo maduro, elegante e lascivo. Como sugere o título da música, os versos são um convite para “arruinar” uma amizade transpondo os limites desta com tensão e envolvimento sexual.

Only Forever: A suavidade é mantida, em perfeita continuidade com Ruin the Friendship. Aliás, a própria Demi considera Only Forever como uma continuação de RTF. Apesar de ser uma bela música tanto na letra como na melodia, confesso não apreciar muito os efeitos de ecos e de gotas de água caindo.

Lonely (fest Lil Wayne): Única pareceria presente na versão standard do álbum, Lonely é, provavelmente, a música mais dramática desse trabalho, embora sua melodia não seja tão dura e triste quanto as palavras entoadas por Demi.

Cry Baby: Coro estilo gospel, sonoridade anos 90 (alguns acordes lembram vagamente “Run, Baby, Run“, da Sheryl Crow), refrão  explosivo e visceral comparado ao restante da música. Guitarra em destaque perto do fim, vocais sensacionais de Demi e uma elegância melódica ímpar. Espero ansiosamente que se torne single.

Games: Aqui é evidente que a influência predominante é a do Hip-Hop, o que não me agrada muito. E, mais uma vez, uma música obsessiva, porém, aqui, em tom agressivo, diferentemente das que a antecederam.

Concentrate: Outra vez a influência gospel no coro e no arranjo, porém acompanhada por uma letra extremamente erótica, belamente erótica, o que casa à perfeição com os vocais intensos e a melodia quase etérea.

Hitchhiker: Tanto a introdução como a melodia da música como um todo assemelham-se bastante a “Concentrate” (mesmos compositores, inclusive), entretanto “Hitchhiker” é a canção mais “fofinha” do álbum, sendo uma espécie mais madura de “Give Your Heart a Break“, sucesso do álbum “Unbroken”, de 2011.

Instruction: Uma das faixas bônus da versão Deluxe do álbum, Instruction é, na verdade, uma participação de Demi em um trabalho de Jax Jones. E isso explica a música, repleta de influências da música latina, destoar tanto das demais do álbum. O timbre similar ao de Rihanna perto do fim da música é da rapper Stefflon Don.

No Promises: Parceria de Demi com Cheat Codes, a versão acústica de No Promises presente como bônus da edição Deluxe é bela e suave. Em sua versão de estúdio, a música conta com toques eletrônicos, mas nem mesmo isso diminui a sua suavidade, exceto pelo momento em que há uma espécie de “solo” dos efeitos eletrônicos. Excelente que no álbum tenhamos a versão acústica.

Smoke and Mirrors (Target Exclusive): Introdução ao piano, música praticamente voz e piano em toda a sua extensão. Uma Demi intimista como em nenhuma outra faixa desse trabalho.

Ready for Ya (Target Exclusive): Música cheia dos assobios tão em moda no pop nos últimos anos, RFY não consegue ser um grande destaque do álbum. Provavelmente, por isso mesmo, não fez parte da tracklist da versão standard.

Visceral sem dúvidas é o melhor adjetivo para qualificar “Tell Me You Love Me”, cujo tema subjacente sem dúvidas são as diferentes maneiras como a obsessão por um objeto de desejo pode manifestar-se. Mais que nunca, em TMYLM, Demi conseguiu demonstrar o quão potente é em termos vocais, o que, ao menos em minha opinião, torna a americana a melhor vocalista de sua geração, tal como o foi Christina Aguilera no início dos anos 2000.

Um outro ponto interessante sobre o novo trabalho de Demi é que ela teve grande participação como compositora e conseguiu entregar letras maduras, capazes de valorizar tanto seus atributos vocais como os histriônicos (é possível sentir uma forte emoção em todas as músicas), e um forte uso do erotismo bem construído, não sendo vulgar em nenhum momento.

Além disso, considero importantíssimo destacar que, embora ferrenha militante feminista (arghh) e do Partido Democrata (sad reactions only), Demi não cedeu à politização que acometeu os trabalhos de tantos outros artistas desde a épica derrota de Hillary Clinton nas eleições de 2016. (Sim, estou falando de Katy Perry, quem surtou completamente e entrou em uma espiral de autodestruição e músicas disgusting por causa de política). Isso, por si só, ao menos para mim, eleva e muito o valor desse excepcional trabalho da artista, que entregou beleza e entretenimento em um momento em que a maioria do ramo está preocupado apenas com a “lacração” e não alienou a parte do seu público que não está no mesmo lado político que ela.

Sem dúvidas, TMYLM é um 10/10 com pleno potencial para ser um dos grandes sucessos de 2017 e vencedor do Grammy na categoria Vocal Pop em 2018 (please, please, please, embora vá concorrer, muito provavelmente, com o também excelente “Meaning of Life”, de Kelly Clarkson).

Favoritas: Cry Baby, Sexy Dirty Love, Daddy Issues, Concentrate.

Desnecessárias: Games, Ready for Ya.

Demi Lovato - Sorry Not Sorry

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4 thoughts on “Resenha: Demi Lovato – Tell Me You Love Me 

  1. Lari Reis says:

    Ainda não ouvi este álbum, mas fiquei super interessada! Gostei muito do que você destacou sobre ser uma obra que abre espaço para a qualidade vocal da Demi. Isso, de fato, é algo que eu sei que ela tem e um fator que, quando falta no meio pop (o que é bastante comum, né) me desmotiva. Já vou colocar para tocar aqui, mas resolvi deixar esse comentário prévio caso eu esqueça de voltar haha

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    • Thais Gualberto says:

      Lari, você não tem ideia do quão feliz eu fiquei por este ser um álbum voltado para a voz! Outros excelentes álbuns pop nesse quesito são o “Places”, da Lea Michele, e o “Meaning of Life”, da Kelly Clarkson, os quais espero poder resenhar em breve. Estou curiosa para saber sua opinião sobre o “Tell Me You Love Me”. 🙂

      Beijos!

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