Wicked Game

ecb37868b61bd70e66a9401a7dc250d2O calor abrasador torturava a qualquer ser vivente. Era um dia daqueles em que ao olhar no horizonte azul olhos atentos podem ver as ondas de calor propagando-se no ar, tornando-o pesado, turvando a visão. Era um dia daqueles em que se sente como se o sol estivesse pesando em um tom laranja intenso sobre nossas cabeças. Era um dia daqueles em que o corpo parecia envolvido em eterna letargia, que a pressão sanguínea parecia preste a despencar e, qualquer um de nós, a ponto de desmaiar.

O delírio, contudo, torturava muito mais que a veranil insalubridade. Amar era-lhe como uma prisão mental: um sentimento profundo demais para ser admitido, um sentimento conflituoso demais para ser superado. Não, ele não queria se apaixonar. Não por ela. Não daquela maneira. Mas era inevitável e sentia-se doente por não conseguir conter aquele ímpeto; sentia-se doente por estar-se permitindo consumir por aquele fogo.

A ideia não cogitada, o sentimento jamais experimentado. Ah, como queria poder embebedar-se dela! Ah, como queria ter as mãos percorrendo a macia e cálida pele dela. Ah, como queria poder para sempre ter o perfume dela impregnado nas roupas e no corpo dele. Ah, como queria poder apreciar para sempre aqueles lábios doces e bem desenhados. Ah, como queria poder fundir-se a ela naquele exato instante.

Estava em transe, em absoluto êxtase; hipnotizado, embriagado. Um sopro da brisa marítima agitou-lhe a camisa, mas torpor e ardor permaneciam junto dele e ainda mais intensos talvez. Desejava-a; mais que isso, cobiçava-a. Reconhecia que aquela era a perdição em sua forma mais perfeita, porém necessitava-a. Seria ela real ou apenas um oásis em uma mente perturbada? Era real, muito mais real do que a sanidade dele desejaria, muito menos real do que o organismo dele exigia.

À beira do mar, seguia caminhando sem rumo. Não lhe importava a areia úmida sob os pés, não lhe importava o barulho das ondas quebrando, muito menos o odor salino. Seus pensamentos só pertenciam a ela; estava plenamente dominado, arrebatado. Quando ele teria imaginado que se depararia com uma mulher como aquela? Quando ele teria imaginado que seria subjugado por uma paixão? Quando ele teria imaginado que seria em um verão que descobriria o estupor correr por suas veias e perturbar-lhe o discernimento?

Os olhos castanhos claros, o longo cabelo castanho com algumas nuances mais claras movimentado pela brisa, a pele dourada pelo sol, o longo vestido vermelho de estampa floral branca, os lábios macios e tão atrativamente femininos. Adiante estava ela, a miragem perfeita, o tão ansiado oásis; a salvação, a maldição. Ela era tudo em que ele pensava, ela em um nada o transformava. Que jogo perverso é o amor, meu Deus! Que avassalador e prepotente sentimento é o amor, sempre a se impor quando nunca esperado, quando nunca solicitado. O amor existia. O amor existia, consumia. E perturbava, como perturbava!

Mas não seria tão somente um desejo, uma veranil ilusão? Como discernir quando tão inebriado? Como resistir diante o sonho imaculado que todas as noites desde então o assolava? Queria cegar-se para o medo, queria cegar-se para expectativa. Sabia que o que ardia dentro dele o destruiria, sabia que aquele amor o destroçaria. Mas precisava vivê-lo, precisava senti-lo. Era irrefreável. Era irrefreável e a cada pontada de dor o desejo fazia-o sentir-se mais vivo. Correu. Correu rumo ao seu sonho, correu rumo a sua ilusão. Olhares se cruzaram e por um longo tempo se fitaram. O mar e o por do sol serviam como testemunhas. Um lascivo sorriso o aguardava, uma expressão angelical o convidava. Estava irremediavelmente envenenado. Ah, como é perverso o amor!

Thaís Gualberto

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12 thoughts on “Wicked Game

  1. Lari Reis says:

    Gosto muito dessa música, mas nunca tinha parado para procurá-la e conhecer um pouco mais do Chris! Estou fazendo isso agora 🙂 A imagem/frase que acompanha o texto capturou minha atenção também. No mais, curti a postagem e gostei da sua forma de escrever… No momento, entendo bem o drama da personagem e concordo que o amor é (ou pode ser) perverso.

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