You Will See

95d4cf953b2d9d984bf59ace224aff05Penúltimo semestre. Trabalho em grupo. Estresse. Sobrecarga. Responsabilidades. Irresponsáveis. Competências. Incompetentes. Maturidade. Imaturas. Uma pilha, era assim que ela se sentia. Não tinha tempo para nada, nem mesmo para conscientemente respirar. Se não fosse essa uma ação involuntária de nosso sistema nervos, certamente ela teria morrido. O maldito trabalho a consumia, o maldito trabalho a aborrecia. Sentia-se perturbada, sentia-se aviltada. Perturbada pelo quanto o trabalho demandava dela física e emocionalmente e pelo tempo que a demandaria; aviltada pela atitude muitas vezes displicente do resto do grupo, pelo ultraje de alguns membros do grupo.

Ainda assim daria seu melhor. Claro que daria o seu melhor! Ela jamais admitiria menos do que o melhor que tinha a oferecer. O problema eram as outras. Nem sempre tão competentes, quase sempre confusas, ocasionalmente irresponsáveis, muitas vezes abusadas. Uma delas, em especial. “Oh, não vou comentar nada porque estou cansada de fazer as coisas e vocês não usarem porque acham que estão erradas!” , gritou uma vez a abusada em uma das reuniões. Mas como utilizar uma pesquisa incorreta para embasar um trabalho? Apenas para não lhe ferir o ego? Ah, sim, é óbvio que a abusada considerava a outra prepotente e arrogante. Inveja da competência, meticulosidade e capacidade de liderança? Claro, só pode. E não, ela não permitiria que a abusada ditasse as regras, muito menos que se impusesse pelo surdo grito dos incapazes.

O trabalho aproxima-se do fim, porém é demasiado lento o caminho até a conclusão, um caminho eterno e no presente aparentemente sem fim, tamanha a tormenta. Sentia-se psicologicamente consumida, psicologicamente destruída. Precisava descansar, mas a responsabilidade ecoava em gritos em seu pensamento e não falharia em cumpri-la. Finais de semana perdidos, feriados perdidos, noites de sono perdidas. Da paciência, por outro lado, não existia muito. Não via das outras tanta dedicação; das outras que matavam aula para encher a cara no boteco e reclamavam que ela não queria matar aula para fazer o trabalho; das outras que achavam necessárias infrutíferas reuniões presenciais quando sequer sabiam ao certo o que deveriam fazer ou não.

Eis que veio a gota d’água. A parte criativa, a mera criação de um nome. E como tudo era puro atrito naquele grupo, ela pela primeira vez decidiu abster-se em uma decisão. O nome era irrelevante, não valeria à pena desgastar-se por tão pouco. Já havia organizado perguntas, havia respondido dúvidas das demais integrantes do grupo, estava com dores de cabeça. Foi quando a abusada decidiu outra vez pela maledicência. “A moda agora é o ‘se abster’! kkkkkkkkkkkk”, provocou a rainha do faniquito, justamente aquela que mais se abstinha e o fazia por puro capricho, simplesmente para não ver suas frágeis ideias vencidas pela racionalidade. Boom! Foi impossível ficar calada. Ela explodiu, confrontou a abusada, a verdadeira rainha do “se abster”; expôs a verdade. À abusada faltava maturidade; comprometia-se muito menos com o trabalho que as outras, mandava indiretas, era idiota e não só se abstivera de UMA opinião, mas sim de todo um trabalho em momento anterior e por mera birra. A abusada então incorporou o personagem em que era mais hábil, o papel de coitada, de boa moça, de ofendida; OFENDIDÍSSIMA!

Mas como esperar algo distinto do vitimismo de alguém que orgulhosamente proclama-se dependente de programas do governo e que no governo deposita irracional gratidão pelas coisas que ela própria conquistou? Maldita quenga socialista! DANE-SE, EXPLODA-SE! Foi o que ela disse à abusada, sem a parte da quenga, mas com a palavra com F seguida do pronome oblíquo indicando voz passiva reflexiva. Mas ainda assim com classe. Sem descer dos saltos, jamais… Elegantemente raivosa e com de fato com a razão.

Thaís Gualberto

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