O desespero era o estado permanente de Eduardo. Tinha, outra vez, diante de si, a mulher que amava desde que tinha 20 anos. Não se tratava de um desespero trivial ou ocasional, mas sim oriundo do profundo arrependimento que o consumia. E vê-la novamente, fisicamente tão próxima, mas emocionalmente tão distante, era um sinal.
Tantos anos perdidos por uma mentira, tantos anos destruídos por agradar o mundo. Quebrara os votos feitos diante de Deus, envolvera-se com outras. E nunca, nem mesmo por um instante, Victoria deixara de ser aquela que reluzia no recôndito de suas lembranças.
Eduardo carregava consigo muito mais culpas que os próprios algozes de Victoria. Haveria penitência capaz de reconciliá-lo com Deus por tantos danos? Sem nenhuma dúvida, sim, e ele tinha perfeita noção da infinitude da misericórdia divina diante de um coração contrito. Mas duvidava que pudesse reconciliar-se com ela.
Diante dela, sentia urgência. Como aplacar a dor que ela levava consigo? Era possível a um humano perdoar tão cruel falta a outro? Como ela o tinha nos pensamentos dele após todos aqueles anos de solidão e covarde desprezo por ele impetrado a ela?, perguntava-se Eduardo. Ele não sabia. Uma miríade de indagações ocorria-lhe, as respostas, porém, eram o vazio.
Será que seria capaz de perseverar em vez de se acuar? Seria capaz de se manifestar, de emitir o sinal correto para que outra vez ela pudesse confiar nele? Ele rastejaria. Imploraria. Clamaria. Mas tê-la-ia novamente. Ele a envolveria em seus braços, cuidaria dela, e buscaria a certeza de que, a cada novo dia, faria com que ela se sentisse a mais amada das mulheres. Isso ainda que a si próprio, provavelmente, jamais fosse capaz de perdoar.
Inspirada pela música “Warning Sign”, do Coldplay.
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Economista & Escritora. Apaixonada por ficção, música, política e coisas fofas. Aqui vocês terão resenhas e, principalmente, textos ficcionais escritos por esta que vos “fala”.