Resenha: Um Mais Um

Jess Thomas era praticamente uma mãe solteira havia dois anos. Seu marido, Marty, voltou para a casa da mãe após várias empreitadas profissionais fracassadas, deixando dívidas e dois filhos para Jess sustentar, o que ela faz por meio de dois empregos – um negócio de limpeza doméstica com a melhor amiga e como balconista em um pub. O mais velho, Nicky, era filho apenas de Marty, porém criado por Jess havia sete anos, e vivia metido em confusões por causa de seu estilo gótico (olhos delineados, inclusive). Já Tanzie, de oito anos, também filha de Jess, era superdotada para Matemática e por isso recebe a oportunidade de ir para um excelente colégio particular com programa especial de Matemática com uma bolsa de estudos de 90%.  A família, contudo, não estaria completa sem Norman, o enorme e babão cachorro das crianças e melhor amigo de Tanzie.

Ed Nicholls, por sua vez é um milionário do ramo de tecnologia, divorciado e encrencado. Muito encrencado. Após ter comentado sobre os próximos negócios a serem lançados por sua empresa de tecnologia com uma ficante e o irmão dela ter feito fortuna logo após o lançamento, Ed vê-se afastado do próprio negócio e em complicadíssima situação com a justiça por ter fornecido informações privilegiadas. Como se isso não fosse o bastante, seu pai tinha era um paciente terminal de câncer. E é assim que começa “Um Mais Um“, um delicioso e estranhamente alegre romance da autora britânica Jojo Moyes.

wp-1468781916202.jpegEditora: Intrínseca

Páginas: 319

Onde encontrar: Amazon, Americanas, Saraiva

Sempre otimista e positiva, Jess desespera-se ao se dar conta de que, apesar de seus dois empregos, pouco poderia fazer para que a filha ingressasse no St. Anne’s, uma vez que teria de pagar a diferença. O professor de Matemática de Tanzie então dá uma esperança a Jess: inscrever Tanzie em uma Olimpíada de Matemática na Escócia cujo prêmio cobriria os gastos de ingresso em St. Anne’s. Mas como fará Jess para viajar para a Escócia sem dinheiro e ainda tendo de levar Nicky e o cão Norman por não ter com quem deixá-los em segurança? É nesse ínterim que Jess acaba por ajudar a Ed, seu cliente de faxina, quem ela encontra bêbado no pub em que ela trabalha, deixando-o em casa em segurança. E ele retribui o favor ao encontrar Jess e a família na beira da estrada a caminho da Escócia em um carro velho, enguiçado e irregular de acordo com as leis britânicas: ele decide em dar a eles uma carona que pode vir a mudar completamente a vida de todos ali.

E é justamente a longa viagem rumo à Escócia que faz desse livro tão divertido e delicioso. Vômitos, baba de cachorro, sanduíches, kebabs estragados, brigas, hackers, atrasos, cadernos de cálculo, vinho barato, hematomas, olhos delineados, pouco dinheiro, cantorias, amores, traições e vinganças – absolutamente TUDO acontecem ao longo dos dias em que Ed e Jess e sua família dividem o carro de luxo dele destino à Escócia. E Jojo Moyes é magistral na construção profunda, porém leve, de cada um dos personagens dessa excelente história.

O que mais me chama a atenção para a narrativa, contudo, é como ela condiz com relatos que o psiquiatra britânico Theodore Dalrymple faz nos artigos compilados no excelente “A Vida na Sarjeta“, nos quais ele mostra como na underclass o comportamento virtuoso é desestimulado entre eles e visto inclusive como criminoso muitas vezes, uma vez que o indivíduo virtuoso acaba por destacar-se e despontar para possibilidades futuras melhores que as dos acomodados, tipo predominante na underclass britânica. Isso fica evidente em trecho como:

– … se ela (Tanzie) for inteligente como dizem que é, vai trilhar o próprio caminho. Terá de ir para McArthur como todo mundo.

– Como os pequenos filhos da mãe que passam o tempo todo planejando como quebrar a cara do Nicky. (…) Ela não vai se adaptar lá, Marty!

– Agora você está falando como uma esnobe.

– Não, estou falando como alguém que aceita que a filha é um pouquinho diferente. E talvez precise de uma escola que invista nessa qualidade.”

“Marty não gostava daquilo. Fazia com que ele se sentisse desconfortável. Mas tudo o que não era “normal” o deixava desconfortável. No entanto, era o que fazia Tanzie feliz (…) A mãe de Marty, em suas raras visitas, chamava Tanzie de CDF. Dizia isso como se essa não fosse uma qualidade muito boa para uma pessoa”.

Com todas as complicações que encontra, com toda a confusão, Jess é uma mãe exemplar e que não mede esforços por seus filhos. Ed, por sua vez, mostra-se muito mais que um geek milionário e é impossível não se deixar conquistar por ele e torcer porque ele não seja condenado por fornecer informações privilegiadas. Mais uma vez Moyes presenteou seus leitores com personagens apaixonantes pelos quais criamos empatia praticamente de maneira imediata, dessa vez, porém, com uma narrativa/temática bem mais leve que a dos outros dois romances dela que já li (“A Última Carta de Amor” e “Como Eu Era Antes de Vocês” – também excelentes!). Mais uma vez, um livro de Jojo Moyes é 10/10 para mim!

Thaís Gualberto

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10 thoughts on “Resenha: Um Mais Um

  1. onlysecretdreams says:

    Adorei a resenha Thaís!! Fiquei muito curiosa para ler esta história da Jojo…
    Você sabe que adoro “Como Eu Era Antes de Você” e até agora só conheço a história da Lou, portanto estou querendo conhecer mais livros apaixonantes da autora hehe.
    Um Mais Um já entrou para minha lista e quero te parabenizar pela ótima resenha, sempre detalhada e pontual ao mesmo tempo, e que me faz querer ler os livros que tu resenha <3
    Beijinhos!!

  2. Danielle S. says:

    Thais, não acredito que encontrei a resenha desse livro aqui, é um sinal, hahaha! Comprei ele na sexta, mas ainda não comecei a ler… Agora PRECISAREI ler, né? Já pulou todos os livros da minha lista e começarei hoje! 😀
    Gostei muito da resenha, e ainda mais que você trouxe um pouco da cultura inglesa para mostrar como Jojo pegou algo que existe e colocou no livro… Quer dizer, não acho essa ideia exclusivamente de lá, conheço algumas pessoas que teriam o mesmo comportamento por aqui.

    Beijo! ♥

    • Thaís Gualberto says:

      Que legal saber que te motivei a antecipar uma leitura, Dani! Certamente é um sinal haha E quero ver sua resenha para saber suas impressões sobre a história, hein!! Não só eu concordo com você sobre isso também acontecer aqui como o próprio Dalrymple comenta em “A Vida na Sarjeta” que o fenômeno é mundial, infelizmente…

      Beijos!

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