Style

Recomendo que primeiro leia Enchanted.

Ao inevitável olhar, o encantamento. Uma faísca, um arrepio; decerto, o inexplicável. O encontro vívido de sentimentos para ambos desconhecidos mas visceralmente avassaladores. O mesmo acaso que permitira o primeiro vislumbre promovia o segundo e definitivo encontro, este sim consciente; para ambos, este sim veemente. Como era possível não saberem que eram tão próximos? Como era possível uma vez mais se encontrarem? Acomodadas as malas no interior do apartamento, Cristina convidou os irmãos para junto dela fazerem um lanche vespertino. Mas Francesco passou quase todo o tempo em silêncio; era o momento de Cristina e Felipe começarem a de fato se descobrirem.

de0256c49a9b9c6c9eaa34971a210526Isso pode não ser amor, isso pode não significar nada no futuro, mas eu sinto algo diferente… Não, ela jamais havia experimentado tão estranha atmosfera, quase como uma constante eletricidade, diante qualquer rapaz. Aquela era-lhe uma maneira de admirar até então completamente desconhecida. É impossível não ter os olhos fixos a ele… Apenas com o olhar, Cristina estava ávida por reconhecer, por notar cada detalhe daquele que tinha diante seus olhos. Eram os olhos vividamente azuis e penetrantes dele, que se mostravam ávidos por conhecimento, que transpareciam um rapaz com metas definidas. Era a postura de garoto bem criado e muito inteligente e culto, possivelmente ex-aluno de algum caro colégio católico argentino. Ele deve ser mais inteligente que eu, ele parece mais inteligente que eu… Eram as feições caucasianas, o farto cabelo loiro; uma masculinidade refinada, digna de um gentleman. Argentino, mas descendente em primeiro grau de italianos eu sei… Era o ar de um homem que recebeu dos pais sólidos valores morais e que sabia que seria bem sucedido na vida. Um bom e responsável homem, certamente… Era o porte de rapaz empenhado nos esportes; talvez titular no time de pólo, hábil jogador de tênis e do tipo que pratica golfe com o pai e os amigos do pai. Um campeão… Era o jeito tão “Ivy League” como ele tinha o suéter sobre os ombros e passava a mão pelo cabelo. Era aura de um jovem conservador, que jamais se deixaria envolver por qualquer das histerias esquerdistas em ebulição entre os nascidos no final dos anos 50 e começo dos 60. Argentino, mas certamente não peronista, amém… Era o sorriso de quem não estava apenas ostentando uma imagem, mas sim que usava a aparência externa para se expressar inteiramente como quem verdadeiramente era e no que acreditava. E é o primogênito… E é um homem em sua mais perfeita compleição… Não um garoto, mas um homem de verdade… E era a Cristina impossível resistir a tudo isso, pois sempre fora esse seu ideal de homem.

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Não era uma miragem… Ela se chama Cristina-Marie… E ela é vizinha do meu irmão… Não se tratava da mera atração que já sentira por outras garotas e mulheres; claro que ela o atraía, mas era distinto. Felipe a admirava; mal a conhecia e já admirava. Como é possível? Como estar diante ela e não contemplá-la? Eram os olhos verde-azulados que o encaravam e cintilavam como dois cristalinos oceanos, os olhos de uma garota sonhadora e incrivelmente determinada a realizar suas ambições. Era a postura de menina de modos refinados, conduta inquestionável e evidente maturidade; sabia que ela fora a primeira aluna da turma e da série no internato para meninas em que estudara no México. Ela contraria o senso comum, ela é tão bela quanto inteligente. Eram as feições e o estilo classicamente femininos e a elegância que jovial e naturalmente ostentava, o longo cabelo loiro, a saia midi evasê, os saltos, o batom vermelho; quase como o retrato de uma moça dos anos 40 ou 50, uma dama indiscutivelmente. Nascida no Brasil, criada no México, mas franco-germânica por ascendência… Era o ar de garota uma garota criada com princípios e moral, focada nos estudos e nas particularidades da vida feminina, mas obstinada a um dia estar no topo e ainda assim ser uma dona de casa e esposa exemplar. Uma mulher virtuosa, sem dúvidas… Era a postura de uma mulher que poderia ter escolhido destacar-se pela beleza ímpar ou servir como mero acessório de orgulhosa ostentação do futuro marido, mas que decidiu por trilhar o caminho da conciliação da independência financeira e do uso de sua também ímpar capacidade cognitiva com construção de uma família. Poderosa… Uma doce poderosa… Era o jeito tão “Ivy League” como ela usava a camisa azul clara para dentro da saia pregueada de lã xadrez com mary-janes de saltos altos. Era a aura de moça conservadora que jamais se permitiria levar pelo embuste feminista. Uma admiradora de Margaret Thatcher, óbvio… Era o sorriso de quem não estava apenas ostentando uma imagem, mas sim que usava a aparência externa para se expressar inteiramente como quem verdadeiramente era e no que acreditava. Uma menina… Mas tão mulher… E tão menina… Tão determinada, mas tão tímida e doce… Uma grande mulher, em questão de poucos anos, não duvido… E era a Felipe impossível resistir a tudo isso, pois sempre fora esse seu ideal de esposa.

_ Espero que voltemos em breve a nos ver… E a conversar… E que possamos ser bons amigos… – murmurou Felipe, aparvalhado.

_ Espero o mesmo… – assegurou Cristina, com o sorriso iluminando o hall do andar de seu apartamento.

Despediram-se à porta do apartamento de Cristina com um discreto abraço, logo após o lanche da tarde. Mas ali já não havia dúvidas de que esperavam muito mais do que serem amigos. Vislumbravam um futuro em comum, suas metas pessoais se complementavam, tinham visões de mundo muitíssimo parecidas. Desconheciam ainda os defeitos, mas estavam certos de que seriam toleráveis desde que viessem a no futuro estar juntos. Agarrariam aquela oportunidade e juntos um dia conformariam uma admirada e respeitada família. Ela atrás da porta principal do próprio apartamento, ele atrás da porta principal do apartamento do irmão; ambos, contudo, pensando no quanto eram perfeitos um para o outro.

Por Thaís Gualberto

* Inspirada principalmente pela música “Style“, de Taylor Swift.

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