Seu cabelo era dourado como o trigo maduro e pendia até a cintura, ondulando ao soprar do vento. Seus olhos azuis eram gélidos e salpicados de tristeza, transbordando uma fúria para a qual ele não conhecia palavras. Ela era alta e esguia e sua expressão era tão dura como parecia apropriado à situação. Vestia preto, mas todos ao redor também. Vestia uma longa saia, uma blusa de longas mangas. Parecia recatada, talvez até mesmo extremamente recatada, porém a camisa abria-se até quase o umbigo, parte ainda para dentro da saia e sob o cinto, parte para fora. Em contraste com o colo alvo que parecia jamais ver qualquer raio de sol, um sutiã em renda preta.
Em consonância com o ímpeto que emanava tempestuosamente de seu olhar, ela correu até um cavalo de clara pelagem. Sua habilidade era tal que mesmo de saia montou sem nenhuma dificuldade; a danada parecia já estar habituada àquilo. No olhar de todos, perplexidade; no olhar da rival que subjugara, escárnio. Para ele, no entanto, era apenas admiração. Viu-a se afastar em disparada, o olhar semicerrado, o brilho de lágrimas reprimidas nos cantos dos olhos, a expressão fechada, o cabelo esvoaçando. Uma cena vigorosa, uma postura admirável, uma sensação plena de liberdade.
Ainda assim ele não entendia, porém, desejava ávidamente compreender. O que era aquela dor difusa no semblante se nenhuma marca se via? Por que a raiva? Por que o furor? Por que a briga? Por que a risada debochada no rosto da sua oponente? Por que a dor? Ele não sabia explicar como ou porque, mas a enxergava além do óbvio que se apresentava. Ela parecia um anjo, ela com certeza era um anjo. Ela era doce, ela era feminina, mas também era triste e também era brava. Uma dama, não havia dúvida; uma dama deveras arredia, era fato.
Definitivamente, havia algo de diabólico naqueles olhos de anjo; ela era um pequeno pedaço do céu que tinha um lado selvagem. Ele estava encantado, ele estava impressionado. Não a conhecia, contudo já a admirava. Sim, ela era um anjo e também um demônio. Sim, ela tinha um coração selvagem e uma alma indomável.
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Economista & Escritora. Apaixonada por ficção, música, política e coisas fofas. Aqui vocês terão resenhas e, principalmente, textos ficcionais escritos por esta que vos “fala”.
Por que todos os demônios já foram Anjos correto? E todo céu aberto e lindo um dia apresenta a força da tempestade ~~
A música de fundo ficou maravilhosa ao ritmo da leitura! E gostei muito dos detalhes feitos sobre as percepções e sentimentos das personagens ~~
Parabéns 😀
PS: Só acho que vc deveria colocar um aviso no topo do post informando que tem música para ouvir enquanto lê.. Se nao a gente acaba lendo tudo e só depois vendo a música haha
Obrigada! 🙂
Todos os posts de crônicas e contos que escrevo contém uma breve tracklist que ao menos no ritmo orna com a trama, mas devo aderir a sua sugestão e colocar esse aviso nos próximos posts do tipo, pois ouvir a música geralmente faz toda a diferença para entrarmos no clima da narrativa. Obrigada pela sugestão!
Beijos e excelente semana!
Sim!!! Quanto mais sentidos são estimulados mais viva é a experiencia ~~
Thais, indiquei seu blog para o Prêmio Dardos:
http://reflexoeseangustias.com/2015/12/13/premio-dardos/
Obrigada, Silvia! Publicarei em breve 🙂
Você escreve muito bem Thaís, meus parabéns! O encadeamento entre as partes do texto ficou ótimo e você faz com que leiamos e imaginemos como tudo está acontecendo, sem ao menos perceber, já estive no final hehe. E essa composição ente anjo e demônio eu adorei!
Beijoos :*
Obrigada, Natália! <3 Fico feliz de que tenha gostado 🙂
Você leu ouvindo a soundtrack que coloquei no final? A primeira música é de todas a que dá mais clima para a cena, pois foi a que me inspirou o trecho.
Beijos e excelente semana!
Logo de cara, pensei na música Wild Heart, do The Vamps. Um grupo pop britânico que eu só conheço por essa música, porque tocava muito nas rádios por lá… A música que abre o set list que você montou é bem melhor, porém! haha
Gostei do texto. Sobretudo do parágrafo inicial porque foi bem fácil criar a imagem na minha mente. É o que eu mais gosto quando leio contos, crônicas…
Beijos
Não conheço a homônima do The Vamps, na verdade não conheço nenhuma música do The Vamps hehe Vou procurar
Eu sou apaixonada pela Wild Heart do Daughtry… Aliás, o cd da banda que contém essa música, o Baptized, é excelente (Broken Arrows é minha favorita).
Obrigada! O primeiro parágrafo também é meu favorito hehe Cria todo um suspense. E eu adoro escrever cenas bastante visuais, é meu maior vício de escrita hehe Mas acho que, na maioria das vezes, esse é um bom vício.
Beijoos!