Resenha: A Maleta da Sra. Sinclair

Ontem foi dia do livro e eu não poderia deixar essa data passar em branco! Para comemorar, trago mais uma resenha. “A Maleta da Sra. Sinclair”, livro de estreia de Louise Walters, livro que ganhei no amigo oculto do trabalho ano passado, é o livro da vez.

Roberta Pietrykowski trabalha há anos em uma livraria, a Old & New, e adora vasculhar os exemplares usados que recebem em busca de cartas e dedicatórias deixadas pelos donos originais dos exemplares e assim se perder imaginando a vida deles. E é a partir de uma velha carta escrita por seu avô encontrada em uma mala que pertencera a uma certa Sra. Sinclair antes de pertencer a sua avó que Roberta começa a questionar a história que até então conhecia de sua família.

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Editora: Essência

Páginas: 349

Onde encontrar: Saraiva, Americanas, Livraria Cultura, Amazon

A partir daí, a narrativa alterna o presente (2010), em que Roberta narra seu próprio cotidiano, com os anos 40, em que somos apresentados a Dorothy Sinclair, uma mulher introspectiva que se fecha ainda mais para o mundo depois de seu filho nascer morto e seu marido abandoná-la dizendo que iria para a guerra. A história de Dorothy começa a mudar quando, pouco tempo após acolher duas jovens para trabalharem no sítio, ela conhece o piloto polonês Jan Pietrykowski. E, para Roberta, restam perguntas de difíceis respostas, uma vez que apenas a avó centenária que mora em um asilo podia esclarecê-las. Quem teria sido a dona da mala? Por que Roberta  a herdou? Qual a relação de seu avô com a Sra. Sinclair a quem endereçou a carta?

Louise Walters não falha quanto às respostas que junto de Roberta buscamos, mas exceto por algumas frases bastante felizes e descrições ricas e muitíssimo bem construídas, o livro infelizmente não se destaca. E por que não se destaca? Porque suas protagonistas são monótonas. Roberta é apática, parece não ter nenhuma vontade de viver nem mesmo ter objetivos claros na vida e eu preciso notar isso em uma personagem para sentir empatia e admiração por ela. Ainda que ela tenha motivos razoáveis para em alguns momentos ser apática, nada justifica a apatia constante da personagem e isso foi realmente muito decepcionante. Em nenhum momento me senti compelida a torcer pela personagem.

Dorothy também é apática, demasiadamente apática, contudo isso faz sentido quando se trata de uma personagem que desejava ser mãe e viu seis gestações terminarem em 5 abortos e 1 natimorto. Dorothy contudo, ao longo da maior parte da história é uma mulher confusa, é uma mulher sem opinião e muito, muito negativa e pessimista. E isso é perceptível na personalidade dela mesmo antes da constatação da impossibilidade de ser mãe, mesmo antes de um casamento fracassado e mesmo durante o relacionamento com Jan. Salvo alguns poucos momentos de maior tensão no enredo, também não me sinto compelida a torcer por Dorothy e mais uma vez isso me entristece, pois gosto de torcer pelas personagens que leio.

Apesar disso, o desfecho, que é previsível bem antes da página 100, é bastante digno, sendo coerente com todo o desenrolar da história e não deixando furos com o enredo, além de ser o momento mais emocionante da história. O livro, infelizmente, ficou bastante aquém das minhas expectativas, sobretudo pela incapacidade das protagonistas de me fazer torcer por elas ao longo da maior parte da história. É notável, entretanto, a habilidade da autora em descrever pessoas e situações e acredito que isso me permite ter expectativas positivas quanto a futuras publicações da autora. Também é bastante evidente que a autora é hábil na construção de situações cotidianas, o que certamente é um distintivo importante em relação a muito autores de estilo semelhante ao dela. E claro, não deixa de ser uma bela história, ainda que, ao menos a mim, as protagonistas não convençam.

Assim sendo, A Maleta da Sra. Sinclair fica com 6/10.

Thaís Gualberto

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4 thoughts on “Resenha: A Maleta da Sra. Sinclair

  1. Silvia Souza says:

    Excelente sua resenha, Thaís!
    Uma coisa que eu admiro em algumas obras é justamente a capacidade do autor dar vida aos personagens e eles passam a ser praticamente humanos, estimulando nossa empatia ou nosso desprezo. Pelo que entendi, talvez tenha faltado essa “humanização”?
    Beijo grande!

    • Thaís Gualberto says:

      Obrigada, Silvia!
      Talvez essa seja uma boa maneira de expressar em uma só palavra o problema do livro. O grande problema é que as personagens careciam de profundidade e isso é um elemento crucial para que nos prendamos a uma história (ao menos para mim)…
      Beijos!

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