Resenha: Christina Aguilera – Liberation

Christina Aguilera - Liberation

Após 6 anos sem lançar mais que parcerias como a excelente “Hoy Tengo Ganas de Ti, com o mexicano Alejandro Fernández, e a premiada “Say Somethin‘”, com o duo A Great Big World, Christina Aguilera está de volta ao cenário musical com “Liberation“.

Confesso que a estética da era fez com que, inicialmente, eu imaginasse estarmos diante um álbum que seria puro virtue signalling ideológico/feminista. Afinal, para esta era, Christina adotou uma estética muito em moda nos círculos feministas: ausência/escassez de maquiagem como militância anti “”padrões”” e aparência relaxada/descuidada (e aqui não me refiro à cara limpa, obviamente). O encarte do álbum, naturalmente, seguiu tal estética e, não apenas por isso, decepcionou bastante. Pela primeira vez, um encarte da cantora não incluiu as letras das músicas e mesmo as fotos que o ilustram já haviam, em sua maioria, sido publicadas em uma revista para a qual Christina posou em meados de março/abril.

Christina Aguilera - Liberation

Liberation: Comovente introdução ao piano e violinos em que se escutam algumas poucas palavras da cantora e risos infantis. A urgência e a tensão da melodia crescem conforme eta se aproxima do fim.

Searching for Maria: Introdução acapella da faixa seguinte.

Maria: Primeira faixa propriamente dita do álbum, foi produzida por Kanye West e traz a cantora refletindo sobre as próprias escolhas. Maria é uma referência tanto ao segundo nome de Christina como à personagem homônima de Julie Andrews em “A Noviça Rebelde”, filme que marcou a infância da cantora. Toques latinos msiturados a uma sonoridade predominantemente R&B, porém com acordes dramáticos de violino, é, de longe, uma das melhores do trabalho.

Sick of Sittin’: Música com sonoridade funk rock, um experimento para a cantora. Soa bastante confusa e faz referências ao período em que a cantora atuou como jurada no reality show musical The Voice, do qual, hoje, é extremamente crítica. Segundo Christina, estar no reality foi algo que fez pelo dinheiro e que sugava toda a sua criatividade e tempo.

Dreamers: Introdução da faixa “Fall in Line”, é um virtue signalling feminista, com várias garotinhas dizendo o que desejam fazer quando crescerem. Next…

Fall in Line (feat. Demi Lovato):  Faixa da cota “politizada” do álbum, pretende-se o grande “hino feminista” de 2018. Musicalmente, Fall in Line é uma canção incrível e impecável, com sonoridade forte e predominantemente R&B, sendo a concretização da aguardada colaboração entre duas das mais privilegiadas vozes da música atual, Christina Aguilera e Demi Lovato. Em 2017 já havia vazado uma versão da música que contava apenas com os vocais de Aguilera e, embora eu ame a voz e o trabalho da Demi (como podem ver na resenha de Tell Me You Love Me) acho que sua presença não acrescentou nada além de marketing à faixa. Particularmente, abomino músicas com cunho político que não possam ser interpretadas sob uma ótica mais ampla que a proposta pelos militantes que a compuseram e Fall in Line é um caso bastante peculiar. Embora vendida e escrita como feminista (insert disgust here), FIL tem uma mensagem que eu particularmente considero muito mais interessante se aberta e não direcionada a mulheres. Todos, homens ou mulheres, não devemos permitir que nos impeçam de expressar nossas opiniões. Apesar  da forte divulgação, a música não conseguiu destacar-se nos rankings.

Right Moves (feat. Keida e Shenseea): O reggae faz-se presente aqui, uma novidade na obra de Christina. Confesso ser uma sonoridade que não me agrada, mas achei a experiência interessante, sobretudo vinda de uma artista que sempre explora diversas sonoridades que não lhe são típicas. Right move, Christina!

Like I Do (feat Goldlink): Mais uma parceria, predominância de R&B e um tiquinho de rap, Like I Do é uma faixa bastante erótica, como sempre são algumas nos trabalhos de Aguilera. Foi lançada como promocional na semana de lançamento do álbum e soa bem mais interessante que o carro chefe, “Accelerate”. Ainda assim, falta originalidade ao arranjo de Like I Do.

Deserve: O modo como Christina canta aqui assemelha-se ao da Rihanna em algumas faixas do álbum “ANTI” (2016). A letra, bastante pessoal embora não composta por Aguilera, seria uma referência aos altos e baixos de sua relação com seu noivo Matthew Rutler, pai de sua filha mais nova, Summer Rain. Embora a faixa seja excelente no que diz respeito aos vocais e à letra, deixa a desejar na melodia, que funcionaria melhor se fosse mais pop e menos R&B.

Twice: Talvez a continuação natural de “Maria” em termos de mensagem, Twice é mais uma reflexão sobre escolhas, acertos, sacrifícios e erros que cometemos ao longo da vida. Um arranjo simples para uma balada poderosa, a qual Christina entoa com habilidade ímpar. Uma faixa brilhante.

I Don’t Need it Anymore (Interlude): Mais uma introdução, como normalmente se verifica nos álbuns da cantora.

Accelerate (feat. Ty Dolla $ign and 2 Chainz): Primeira música de trabalho da era, “Accelerate” é uma das faixas desse álbum que soa bastante diferente de tudo o que Christina já havia feito, porém com tanto erotismo quanto outras músicas já lançadas por ela. A grande falha da música talvez tenha sido o clipe, que, a maioria dos olhos, é mais nojento que sensual.

Pipe (feat. XNDA): Música com o arranjo mais sensual do álbum, Pipe conta com uma misteriosa voz masculina de XNDA, que muitos acreditam ser um pseudônimo para o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Aqui os vocais de Aguilera soam mais suaves, delicados que nas outras faixas e o arranjo encaixa-se perfeitamente à mensagem.

Masochist: Primeiros acordes soam oitentistas, o que é excelente. Mais uma vez, temos vocais suaves e eles ornam perfeitamente com a faixa, que cresce no refrão com Christina sendo intensa como lhe é habitual. A música permite diversas interpretações e para vários contextos distintos, o que a torna, de longe, a faixa mais brilhante deste trabalho.

Unless It’s With You: Uma bela canção provavelmente dedicada a Matthew Rutler, na qual Christina discorre sobre sua hesitação em relação ao matrimônio e como, ainda assim, seu noivo desperta-lhe esse desejo. Eis a grande balada do álbum e excelente encerramento. Um paralelo a The Right Man, que encerra o excelente Back to Basics (2006), que faz referência a Jordan Bratman, então marido da cantora.

Liberation foi, para mim, uma gratíssima surpresa. Além de ser o melhor álbum de Aguilera desde Bionic (2010), Liberation representa a retomada de vários dos elementos que fizeram de Stripped (2002) o melhor trabalho da cantora, como a variedade de gêneros musicais explorados e temáticas bastante diversificadas. Ressalto também que a escassez de músicas de cunho político também me alegrou muito, pois toda a estética da era fez com que, inicialmente, eu supusesse que este seria o trabalho mais militante de sua carreira. Mesmo Fall in Line, faixa explicitamente feminista, é uma excelente canção inclusive para os que não comungamos do mesmo posicionamento que a cantora. Por outro lado, é inegável que fazem falta elementos estéticos da era Back to Basics que a cantora havia continuado a usar após aquela era, como o batom vermelho e o glamour. 9.0/10 para Liberation.

Favoritas: Masochist, Unless It’s With You, Fall in Line
Desnecessárias: Sick of Sittin’, Right Moves (é legalzinha, mas não faz meu estilo), Dreamers

Christina Aguilera
Gif da era BTB (2006), por que né? hahaha

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