Wild Heart

Seu cabelo era dourado como o trigo maduro e pendia até a cintura, ondulando ao soprar do vento. Seus olhos azuis eram gélidos e salpicados de tristeza, transbordando uma fúria para a qual ele não conhecia palavras. Ela era alta e esguia e sua expressão era tão dura como parecia apropriado à situação. Vestia preto, mas todos ao redor também. Vestia uma longa saia, uma blusa de longas mangas. Parecia recatada, talvez até mesmo extremamente recatada, porém a camisa abria-se até quase o umbigo, parte ainda para dentro da saia e sob o cinto, parte para fora. Em contraste com o colo alvo que parecia jamais ver qualquer raio de sol, um sutiã em renda preta.

il_570xN.515800961_nlw9Em consonância com o ímpeto que emanava tempestuosamente de seu olhar, ela correu até um cavalo de clara pelagem. Sua habilidade era tal que mesmo de saia montou sem nenhuma dificuldade; a danada parecia já estar habituada àquilo. No olhar de todos, perplexidade; no olhar da rival que subjugara, escárnio. Para ele, no entanto, era apenas admiração. Viu-a se afastar em disparada, o olhar semicerrado, o brilho de lágrimas reprimidas nos cantos dos olhos, a expressão fechada, o cabelo esvoaçando. Uma cena vigorosa, uma postura admirável, uma sensação plena de liberdade.

Ainda assim ele não entendia, porém, desejava ávidamente compreender. O que era aquela dor difusa no semblante se nenhuma marca se via? Por que a raiva? Por que o furor? Por que a briga? Por que a risada debochada no rosto da sua oponente? Por que a dor? Ele não sabia explicar como ou porque, mas a enxergava além do óbvio que se apresentava. Ela parecia um anjo, ela com certeza era um anjo. Ela era doce, ela era feminina, mas também era triste e também era brava. Uma dama, não havia dúvida; uma dama deveras arredia, era fato.

Definitivamente, havia algo de diabólico naqueles olhos de anjo; ela era um pequeno pedaço do céu que tinha um lado selvagem. Ele estava encantado, ele estava impressionado. Não a conhecia, contudo já a admirava. Sim, ela era um anjo e também um demônio. Sim, ela tinha um coração selvagem e uma alma indomável.

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10 thoughts on “Wild Heart

  1. blogcrimesemcastigo says:

    Por que todos os demônios já foram Anjos correto? E todo céu aberto e lindo um dia apresenta a força da tempestade ~~

    A música de fundo ficou maravilhosa ao ritmo da leitura! E gostei muito dos detalhes feitos sobre as percepções e sentimentos das personagens ~~

    Parabéns 😀

    PS: Só acho que vc deveria colocar um aviso no topo do post informando que tem música para ouvir enquanto lê.. Se nao a gente acaba lendo tudo e só depois vendo a música haha

  2. onlysecretdreams says:

    Você escreve muito bem Thaís, meus parabéns! O encadeamento entre as partes do texto ficou ótimo e você faz com que leiamos e imaginemos como tudo está acontecendo, sem ao menos perceber, já estive no final hehe. E essa composição ente anjo e demônio eu adorei!
    Beijoos :*

    • Thaís Gualberto says:

      Obrigada, Natália! <3 Fico feliz de que tenha gostado 🙂
      Você leu ouvindo a soundtrack que coloquei no final? A primeira música é de todas a que dá mais clima para a cena, pois foi a que me inspirou o trecho.

      Beijos e excelente semana!

  3. Lari Reis says:

    Logo de cara, pensei na música Wild Heart, do The Vamps. Um grupo pop britânico que eu só conheço por essa música, porque tocava muito nas rádios por lá… A música que abre o set list que você montou é bem melhor, porém! haha

    Gostei do texto. Sobretudo do parágrafo inicial porque foi bem fácil criar a imagem na minha mente. É o que eu mais gosto quando leio contos, crônicas…

    Beijos

    • Thaís Gualberto says:

      Não conheço a homônima do The Vamps, na verdade não conheço nenhuma música do The Vamps hehe Vou procurar
      Eu sou apaixonada pela Wild Heart do Daughtry… Aliás, o cd da banda que contém essa música, o Baptized, é excelente (Broken Arrows é minha favorita).
      Obrigada! O primeiro parágrafo também é meu favorito hehe Cria todo um suspense. E eu adoro escrever cenas bastante visuais, é meu maior vício de escrita hehe Mas acho que, na maioria das vezes, esse é um bom vício.

      Beijoos!

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