Você, somente você

Buquê de Noiva

*Trilha sonora ao fim do post

Chegara o grande dia. O grande dia com o qual ela deixara de sonhar havia muito; o grande dia outrora destruído pelo definitivo. Tantos anos descartando a possibilidade, tantos anos fechada para o mundo, tantos anos sofrendo pela perda tão repentina… E eis que surgiu ele. Os olhos castanhos e intensamente acolhedores e compreensivos. A persistência em pessoa, a ousadia irrefreável. O sorriso cativante. Ele era tudo o que ela precisava, ele era tudo o que ela já não mais buscava. E quando ela já não se imaginava capaz de amar, ele surgiu. Surgiu e resgatou-a da reclusão e da solidão.

Como foi-lhe difícil a princípio reconhecer o enorme sentimento que a consumia, como foi difícil superar o medo de outra vez perder. Mas ele soube esperar, ele soube cativar, ele soube perseverar. E ela teve de admitir para si mesma o quão encantada estava, apaixonada como ela jamais imaginar poder estar outra vez. Uma benção, sem dúvidas? Quantas são as pessoas que foram abençoadas duas vezes com o amor verdadeiro?

Encantada, contemplava-se diante o espelho. Vestia branco, mas ele lhe devolvera as cores quando ela pensava que elas nunca mais lhe serviriam. Devolvera-lhe a alegria, os sonhos, a vida. Enquanto sua mãe e sua melhor amiga fechavam-lhe os muitos botões em madrepérola nas costas, fechou os olhos. Queria chorar. Inspirou profundamente, expirou lentamente; conteve-se. Um turbilhão de imagens atingira seu pensamento, imergindo-a ainda mais nas emoções que a dominavam. Um vislumbre daquele que um dia imaginou que seria seu marido; coisa de milionésimo de segundo e já eram os olhos castanhos de seu atual noivo que ocupavam sua mente. Abriu os olhos. Ainda que ele não estivesse ali, era a ele quem via refletido em suas pupilas contornadas pelo cristalino azul de suas íris. Suspirou. Isso é mesmo realidade?

Os olhos… Ela que sempre desviava os olhos de todos ao seu redor, jamais esqueceria o dia em que enfim olhou-o nos olhos. Iluminados, expressivos, compreensivos. Assim como ele próprio, o mais gentil e determinado dos homens que conhecera. O único disposto a enfrentar e desafiar suas fraquezas; o único diante o qual ela se permitiu por fim chorar os quinze anos de dor e reclusão; o único capaz de lhe curar o coração sem que ela se desse conta. E nele novamente enxergou as cores; tão reais como uma prece antes de dormir, tão intensas como a liberdade de um cavalo a correr rumo ao infinito nos campos. Era tão simples amá-lo, era tão reconfortante nele poder confiar.

Sua mãe e sua melhor amiga sorriram-lhe e logo um nervoso riso contagiou-a. Uma solitária lágrima atravessou seu rosto. Suspirou. Das mãos de sua melhor amiga, recebeu o buquê de lírios, rosas e delicadas flores do campo em tons claros de rosa e branco. Em silêncio, uma breve prece. Destoando dos largos e rápidos passos com os quais costumava locomover-se,seguiu pé ante pé pelo corredor, com a mãe e a melhor amiga acompanhando-a, e logo pelos degraus da escada, ao pé da qual seu orgulhoso pai a esperava. Abraçou-o comovida, completamente enternecida e extasiada pelo grande momento que a esperava.

Começava de fato ali a sua nova vida; abençoada com felicidade e com amor, com a possibilidade de realizar tantos daqueles sonhos havia muito adormecidos. Nunca deixara de acreditar no amor em si, mas não acreditava poder vivê-lo mais de uma vez até que o conheceu, até que se permitiu conhecê-lo, contemplá-lo. Iria até ele de braços abertos, vitoriosa, agradecida, salva de si própria pelo enorme amor que ele a demonstrou. Até ele, apenas apenas até ele.

Thaís Gualberto

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2 thoughts on “Você, somente você

  1. Beatriz Aguiar says:

    Que lindo, Thaís!
    Feliz que sua mocinha tenha reencontrado o amor e também partilho da sua ideia: “será mesmo realidade?”.
    Quando a gente encontra um amor é a dúvida que paira na nossa cabeça!
    Lindo e leve, como o amor! ♥

    Beijão! Tava com saudade de ler teus textos!

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