Dando sequência às resenhas de livros que li ainda em 2015, trago enfim um dos livros que mais aguardei para ler: “As Sete Irmãs”, de Lucinda Riley. E por que ele era tão aguardado por mim? Bem, porque mais que uma saga familiar, foi um livro que contou com uma singela contribuição da minha pessoa! Ainda no comecinho de 2013 a autora lançou um desafio em seu perfil no Facebook, no qual pedia a seus fãs brasileiros que sugerissem nomes comuns no país para que ela batizasse seus personagens de acordo com as sugestões. Eu sugeri alguns nome e, para minha grata surpresa, um deles foi escolhido para uma importante personagem da trama: Beatriz (que também é o nome da vilã de uma das séries que escrevo hehe). Por conta disso, fui convidada de honra para o lançamento mundial no livro, que foi aqui no Rio, mas acabei não sabendo, pois me contataram via Facebook e a mensagem caiu na caixa “outros”… Enfim, esse rolo você podem ler em detalhes no post Meu Kit Especial “As Sete Irmãs”, de Lucinda Riley.
Editora: Novo Conceito
Páginas: 553
Onde Encontro: Saraiva, Americanas, Livraria Cultura
“As Sete Irmãs” é uma série que será composta por 7 volumes, cada um dedicado a uma das irmãs D’Àpliese: Maia, Alcíone (Ally), Astérope (Star), Celeno (CeCe), Tagíope (Tiggy), Electra e Mérope (a irmã perdida). Como indicam os nomes das irmãs, a série foi livremente baseada na mitologia das Plêiades, a conhecida aglomeração de estrelas na constelação de Touro, e muitos dos nomes de outras personagens resultam de anagramas de personagens que povoam as lendas relacionadas as Plêiades. E aí está um dos pontos fortes da história como um todo: usar a fascinante mitologia grega como base para os mistérios que cercam a família D’Àpliese. E, mais legal de tudo, no site da autora há várias curiosidades relacionadas a série, entre elas os significados dos anagramas e a astronomia e mitologia das Plêiades. Vale à pena conferir!
Esse primeiro volume, homônimo à série, conta a história de Maia, a mais velha das irmãs. Após saber que seu pai, Pa Salt, morreu, Maia retorna ao seu porto seguro, Atlantis, o fabuloso castelo isolado às margens do Lago Léman, e se reúne com suas cinco irmãs. Adotadas por Pa Salt ainda quando bebês, cada uma recebe uma pista intrigante sobre sua verdadeira origem. No caso de Maia, essas pistas a levam a uma mansão em ruínas no Rio de Janeiro, onde ela começa a juntar pistas sobre sua história.
Oitenta anos antes, em 1927, o pai de Izabela Bonifácio sonhava com que a filha conseguisse um bom casamento que colocasse definitivamente sua família como membro da elite carioca. Simultaneamente, o arquiteto Heitor da Silva Costa trabalha na construção de uma estátua batizada como Cristo Redentor, viaja para se encontrar com o escultor que iria concluir seu projeto. Algo contrariada com o casamento arranjado, Izabela convence seu pai a deixá-la viajar para Paris com a família da Silva Costa antes de se casar. E é no ateliê de Paul Landowski que ela conhece o jovem escultor Laurent Brouilly, por quem se apaixona profundamente.
A partir daí, a narrativa, como tipicamente nos romances de Riley, desenrola-se alternando presente e passado; sendo o presente em primeira pessoa e o passado em terceira, um recurso que confesso gostar bastante. E a trama decorrente da morte de Pa Salt e o encontro das irmãs em Atlantis nos instiga várias questões: Quem de fato era Pa Salt? Por que a referência às Plêiades nos nomes da meninas? Por que ele adotou uma em cada canto do mundo? Qual a história particular de cada irmã? Onde estaria a irmã equivalente à sétima Plêiade? E isso sem dúvida é algo que nos motiva a virar as páginas rapidamente. Aliás, essa parte da história, a mitologia em torno de Pa Salt e suas filhas, sem dúvidas é o que há de diferencial e de mais interessante na obra, criando uma enorme expectativa quanto ao desenvolvimento na trama.
Eu soube, então, que as sete palavras de Pa Salt havia me deixado não podiam ser mais exatas ao descrever quem eu era.
Senti, contudo, as altas expectativas frustradas a partir do momento em que Maia pisou no Rio de Janeiro. Maia era tradutora e, pouco depois de chegar ao Rio, encontrou-se com Floriano Quintela, historiador e escritor brasileiros cuja obra é traduzida para o francês por Maia. Então começam alguns clichês que considero imperdoáveis, os quais vão visões historiográficas extremamente ideológicas até falas que dão vergonha alheia – e, nesse caso, cabe ressaltar, não sei dizer se isso se deveu à autora ou à tradução do livro. Enfim…
Também me impactou negativamente o fato de a mocinha do passado ser neta de italianos por ambas as partes chamar-se Izabela Bonifácio: 1. No italiano usa-se Isabella; 2. Bonifácio é um sobrenome tipicamente português, o que torna esquisitíssimo ser o sobrenome de uma família de ascendência italiana pura, digamos assim; 3. O apelido dela era Bel, quando o mais natural teria sido Bella. E isso é o tipo de coisa que me incomoda MUITO, pois os romances que eu escrevo são ambientados no México e eu tenho o cuidado de respeitar a grafia hispânica dos nomes e também a ordem em que os sobrenomes se apresentam na composição do nome de um personagem. Outro fato que me incomoda é a parte passada do livro se passar no final dos anos 20 mas retratar uma sociedade tal qual a do fim do século XIX… Mesmo a descrição das vestimentas e penteados enquadrava-se mais tardar na primeira década do século XX e nos anos 20.
Sobre as falas vergonha alheia, enquanto prosseguia na leitura (em ritmo cada vez mais lento e menos empolgado) foram vários os diálogos assemelhados com minhas primeiras tentativas de escrever meu primeiro romance aos 13 anos: fracos e sem sentido prático dentro da história, fazendo com que os personagens soassem como imbecis. Exemplo:
– Enchanté. […] Madmoiselle, a senhorita tem dedos maravilhosos. Não tem, monsieur da Silva Costa?
– Lamento não ter notado antes, mas sim, o senhor está certo.
Também chama a atenção com Izabela apaixona-se rapidamente por Laurent e vice-versa sem nenhum motivo aparente. Eu até acredito na existência de amor à primeira vista na vida real, porém a paixão ardente surgida entre eles tão de repente soa absurda, inverossímil. Isso sem falar sobre como Floriano gaba-se das favelas pacificadas no Rio e de como o Brasil tem prosperado e… Quem informou a autora sobre esses pontos 1. Não tem ideia de como a política de segurança do estado é uma porcaria e como são mal equipados os policiais nas UPPs e como eles são jogados lá em geral despreparados, prontos apenas para serem assassinados; 2. Não entende xongas de economia, pois o modelo desenvolvimentista em vigor é um fiasco que capta votos com sucesso, pois estimula artificialmente a demanda ao facilitar o crédito para quem não tem estabilidade de renda, porém no médio prazo condena o país ao abismo que estamos vivenciando no momento; 3. Culpa ricos pela pobreza dos pobres quando é o sucesso dos ricos que permite que mais empregos sejam gerados nos demais níveis de renda – vejam como a fuga de capitais decorrente da atual instabilidade macroeconômica e da falta de credibilidade do governo tem feito vários postos de empregos desaparecerem – economia, diferente do que muitos pregam, não é jogo de soma zero, em que para um ganhar outro necessariamente tem de perder. Confesso que quis rasgar essa página quando li esse trecho.
Como se nada disso bastasse, ainda encontrei o pretérito-mais-que-perfeito empregado incorretamente no lugar do pretérito perfeito. Isso certamente foi erro de tradução. E em muitos trechos, o encadeamento das ideias é bastante ruim. E sim, eu sempre pensarei em Laurent, o protagonista passado da história como um babaca. E a glamourização da pobreza ao longo da história é tão gritante que dá asco (glamourização da pobreza no melhor estilo esquerda caviar elevado à enésima potência), assim como a glamourização da Lapa. Eu ocasionalmente passo pela Lapa voltando de ônibus do trabalho e é um lugar decadente, deprimente e apavorante mesmo a luz do dia: ruas estreitas, construções sem manutenção, iluminação precária. Um horror. A Lapa e a vida boêmia que ali fervilha não são tão legais e seguros na vida real como na ficção.
O livro, contudo, evidentemente, contou com bons momentos e o próprio enredo é super interessante. Infelizmente, ao menos para mim, esses momentos foram bastante ofuscados pelos numerosos detalhes que expus e também por ser pouco consistente a história dos antepassados de Maia, uma vez que em nenhum momento a trama envolvendo Izabela e Laurent consegue me convencer. Uma pena, pois a ideia da série “As Sete Irmãs” é sensacional e merecia personagens mais densos, melhor trabalhados e diálogos menos óbvios.
Esconder-se do mundo não funciona, porque você ainda precisa enfrentar a si mesma diante do espelho toda manhã.
Assim, minha nota pra ASI é 7/10, pois apesar dos pormenores mencionados, o mistério que une as sete irmãs é bem elaborado, a história como um todo é bastante complexa e acredito que os próximos volumes serão bem menos clichês. O segundo volume parece sensacional e espero dessa vez estar com as expectativas bem calibradas. Até porque o segundo volume foi especialmente enviado para mim da Inglaterra pela Lucinda, que é uma fofa e super acessível. <3
Thaís Gualberto
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Economista & Escritora. Apaixonada por ficção, música, política e coisas fofas. Aqui vocês terão resenhas e, principalmente, textos ficcionais escritos por esta que vos “fala”.
Confesso que enjoei um pouco de séries, mas com uma resenha tão bela e tão envolvente, acho que vou rever meus conceitos…
Um beijo enorme, amiga querida.
Alex
Adorei Thaís!! Suas resenhas são sempre muito completas e bem explicadinhas, que é algo que eu adoro hehe.
Confesso que ultimamente não estou mais tão apegada assim a séries, mas de vez em quando é sempre bom ler alguma e adorei a proposta desta. Achei bem legal o fato de cada livro ser dedicado a uma irmã e também por ser relacionado a mitologia.
Beijinhos <3
Pois é, a proposta da série é excelente justamente pelo mistério que envolve a adoção.
Beijos!
Apesar de amar mitologia não me senti inclinada a ler porque me parece apenas um romance. Desses eu só gosto de Austen e está cada vez mais difícil eu encontrar livros que me interessem. Suas resenhas são um capricho só Thaís! ♥
Obrigada, Grazy! Já tentou ler “E O Vento Levou”? Se você gosta de Austen, provavelmente gostará de Margaret Mitchell 😉
Beijos!
Não tenho costume nenhum de ler series, mas gosto das suas resenhas!
Lamento que você tenha perdido o evento 🙁
Caramba, Thaís. Que máximo tu ter contribuído! Só não curti muito em saber que meu nome te serviu para uma vilã ~ na real acho que até gostei, vilãs muitas vezes são melhores que as mocinhas hahaha ~ e como tu nunca me contou isso!?
HAHAHAHAHH
Um beijo!
Bia
oi, oi.
poxa, fiquei triste aqui por tu não conseguido ir ao evento. =/ mas, calma! uma hora vc realiza seu grande desejo. torcendo aqui.
eu não conhecia o livro, tampouco a escritora, mas só pela resenha, já percebi que é leitura obrigatória. hahaha. eu quase não leio séries, pq me dá uma preguiça e eu sou muito curioso. não consigo esperar 10 mil livros por um fim. mas, confesso que a tua resenha me despertou uma curiosidade. vou colocar o livro na minha wishlist. bjs!
Não me venha com desculpas
Adoro histórias com mistério!! São as únicas que me prendem ate o final do livro sem enjoar! hehe
beijão