Ela não amava. Ela nunca havia amado. Mas ela queria amar; ela ansiava por ser amada. E não havia ninguém, não havia atração. Apenas estranhos; loucos; demasiado feios; desprovidos de inteligência; sem assunto; demasiado amigos, quase como irmãos; interesses diametralmente opostos, posições políticas irreconciliáveis. Ninguém melhor, nenhum admirável.
Eis um dia, eis uma imagem, eis um fato. Interessante…, ela pensou. Eventualmente, eles se conheceriam, mas algo ela já sabia a respeito dele. O suficiente para admirá-lo. Intelectualmente, ao menos. Ele era inteligente, acima da média. Ele é melhor que eu…, pensava ela encantada, distante, contemplando-o por uma pequena foto de perfil na internet. Apenas uma paixonite boba, daquelas adolescentes, daquelas comentadas apenas entre amigas, mas sem nenhuma expectativa de concretização, embora sim, eles fossem se conhecer.
E se conheceram. O início de ano letivo, o auditório, as apresentações. Ela chegou primeiro e, mesmo sem conhecê-la, ele a abraçou. Abraçou-a e beijou-a no rosto. Para ele um cumprimento natural; para ela um abraço cálido, inesperado, diferente de todos os precedentes. E ele era alto, grande, com uma postura respeitável e o ar de homem futuramente bem sucedido que ela tanto procurava em um homem. A paixonite converteu-se em suspiros. Ele, contudo, continuava-lhe parecer intangível. Ainda assim, em meio a tantos outros
Rotinas distintas, pouco se viam; nunca conversavam, não havia oportunidades. Mas se destacavam, ambos. Eram os melhores. Ele presumivelmente; ela, surpreendendo aos colegas. E a admiração dela por ele crescia dia após dia, mas ainda sem qualquer atração física senão o porte dele, embora ele não fosse especialmente bonito.
E como ela adoraria poder conversar com ele! Como ela queria saber se eram comuns seus interesses, suas ideias! Como ela gostaria de saber se ele era o tipo de homem com quem ela conversaria contente por toda a vida! Como ela gostaria de confirmar que ele não era um imbecil como tantos outros ao redor dela! Não, ele não poderia ser um imbecil! Não ele… Ele era mais sério que os outros, mais inteligente… Ele era melhor, ele não era como os outros… Ele era o único ali com quem ela se permitia sonhar e em pensamento apenas flertar.
Ela não podia evitar, estava apaixonada. Nem mesmo para si própria reconhecia, diante a aparente impossibilidade, mas estava verdadeiramente apaixonada. Distante e em silêncio, mas apaixonada. Ela não admitiria para ninguém, mas estava apaixonada. Ela não podia evitar, estava apaixonada.
Thaís Gualberto
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Economista & Escritora. Apaixonada por ficção, música, política e coisas fofas. Aqui vocês terão resenhas e, principalmente, textos ficcionais escritos por esta que vos “fala”.
Puxa, acabou? Rs
<3