Primeira parte de Extranjera/Foreigner
Eu então tinha 16 anos. Como a maioria das garotas que comigo estudava, tinha o cabelo bastante comprido, mais precisamente tocando o meio da cintura. Loiro, farto, liso, brilhante. Regularmente, aparava as pontas e também a franja, que na época usava reta, tal como o restante do cabelo. E minha relação com ele sempre foi de extremo amor e carinho e até hoje temo as tesouras… Isto, principalmente, devido à mamãe… Ela não achava adequado que eu me apresentasse com um cabelo tão comprido; acreditava que aquela era uma imagem pouco confiável, uma aparência de menina inocente, fútil e desprovida de conteúdo; achava que eu parecia mais uma pretensa rainha da beleza que uma estudante dedicada e competente.
_ Tem de cortar o cabelo, Cristina! – gritava-me, tão ríspida como boas professoras de boas maneiras deviam ser.
_ Eu não preciso fazer isso! Eu não quero fazer isso! – gritava eu, com as lágrimas brotando nos olhos a mais simples menção do ato. – O comprimento do meu cabelo não prova o quão boa ou ruim em ou para algo sou, mamãe!
_ Eles não pensarão assim.
Pragmática, mamãe praticamente arrastou-me à tortura. Em uma tarde de sexta-feira, quando eu cheguei do internato para passar o final de semana em casa, lá estava mamãe, junto a sua cabeleireira. Eu a conhecia, ela aparava meu cabelo, cortava minha franja havia quase oito anos. Nunca a temi, mas naquele dia foi diferente. Eu tinha absoluta certeza de que ela faria o que mamãe pedisse, sem ressalvas ou direito à apelações.
Minutos depois lá estava eu, os olhos inundados, o rosto úmido e rosado, voltado para baixo. Dois terços do meu cabelo cobriam o chão ao meu redor. Em mim, os fios que antes estendiam-se retos até a cintura, precisamente alcançavam meus ombros.
A volta ao colégio foi, a princípio, infernal. Eu dividia o quarto com as gêmeas Fernández; Victoria era minha melhor amiga, mas Rosa era meu inegável desafeto. Esta não desperdiçou a belíssima oportunidade de me provocar. A outra, foi mais solidária do que eu poderia esperar ou querer, mesmo sendo ela minha melhor amiga: cortou o cabelo como o meu. Nenhuma de nós gostava daquele estranho comprimento, mas ao menos tive com quem dividir meu pesar e minha ânsia por cabelos mais longos.
E lá fui eu, poucas semanas depois do triste momento, para minhas entrevistas. Para Yale, mamãe fez-me vestir um tailleur preto com blusa branca. A saia era reta, bem ajustada, mas cobria até meus joelhos, o que na época incomodava-me um pouco. A falta de cor fez-me sentir mal comigo mesma, com meus princípios. Em Princeton, apresentei-me contrariando mamãe, em vez de mais uma blusa branca, pus uma vestido lilás, reto, à altura dos joelhos, sob o blazer cinza claro. Posso dizer que a Sra. María Carmen ficou bastante furiosa, mas não tanto quanto diante minha escolha para Harvard. Para a minha mais importante entrevista, optei por um vestido branco à altura dos joelhos de saia plissada sob um blazer rosa claro bem ajustado. Apesar do comprimento do cabelo que não me agradava, senti-me realmente bonita naquele dia. Estava certa de que mesmo uma garota doce e aparentemente frágil poderia conseguir uma vaga no curso de Economia. Mamãe não tinha dúvidas de que eu pusera tudo a perder.
Alguns meses depois, a confirmação. Para a total surpresa de mamãe, eu tinha sido aceita nas três. Fui assunto de colunas sociais, o colégio teve seu prestígio aumentado. Pela primeira vez o Instituto Santa Elena tinha uma de suas tão tradicionais alunas aceita em Harvard. E mamãe, que a principio relutara diante minha escolha, comemorou junto às amigas.
**continuará**
Extranjera/Foreigner é o primeiro capítulo de Second Best, spin-off de uma das séries que escrevo, e será parte por parte publicado aqui no blog ao longo das próximas semanas.
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Economista & Escritora. Apaixonada por ficção, música, política e coisas fofas. Aqui vocês terão resenhas e, principalmente, textos ficcionais escritos por esta que vos “fala”.
Obaa, adoro ler as coisas que tu escreve, e amei o comecinho dessa série Thaís, ansiosa pela continuação hehe.
Um beijão!
Obrigada, Natália! *-* Espero que goste das próximas partes 🙂
Beijos!
Nossa, li em segundos e já quero a continuação! Imaginei Cristina como a Rory de Gilmore Girls hahahaha <3
Beijos!! Blog Amanda Hillerman
Haha Nunca fiz essa associação, mas como adoro Gilmore Girls, adorei! hehe
Até o final da semana, publicarei a parte 3 hehe
Beijos e obrigada!
É esse tipo de amiga que eu quero ter na vida! Que corta o cabelo junto! <3
Ela escolheu Harvard, é isso? Me lembrou muito da Rory Gilmore esse negócio de escolher a faculdade! 🙂
Assim, eu sou uma ótima amiga para minhas amigas, mas isso é uma coisa que elas nem sonham em esperar de mim HAHAHAHAHAHA
A Amanda citou Gilmore Girls, mas eu só assisti as primeiras temporadas, então, I have no idea of this part hahaha
Beijos!
QUE MÁXIMO 🙂
Mal posso esperar pela continuação eheh
Super beijo, Pati.
Ps: O blog esta de “cara nova” vem conferir!
http://www.patriciacousseau.com.br
Assim como ela, tenho pavor de cortar o cabelo, hahah. Que linda, passou em tudo. Estou curiosa para a continuação. Adorei. Um beijo ♡