O passado se golpeava. Dor. Frio. Não o frio de baixas temperaturas, mas o frio de um vazio egoísta. É a lembrança que persegue, a memória que golpeia. Como controlar a força, a explosão interior de tão forte emoção? Impossível. Obsessão? Possível. Algo decerto profundo. Algo que impede de enxergar os problemas. Apenas sinto. E a tormenta se aproxima. A calamidade. Expectativa. Ansiedade. Um vórtice de sentimentos. Por que você? Por quê? Por quê o passado? Por que ainda é você o meu presente? Silêncio.
A tranquilidade também pode atormentar. Porque ainda o quero. E você sabe disso, você é capaz de perceber. Plenamente. Ocultar, omitir. Impossível. E eu nem sequer me entendo. Como? Como posso ainda vê-lo como remédio para minha tragédia? Como, se você próprio foi minha tragédia? Mas você é parte de mim… Indelével. Inabalável. Tragédia e esperança. O que me clareia. O que me entorpece. Como? Por quê?
Inexplicável, evidente. Mas o passado não se apaga. Posso afastá-lo, mas lá continuará, um monolito em minha vida. E isso levarei para o infinito. Porque o esforço é inútil. Você… Você! Negar é inútil. Perdoar é o único caminho. Caminho solitário, vazio, gélido. Mas o orgulho… O orgulho é estéril. E você… Você…! O ruído inaudível que clama em meu seio. A explosão silenciosa que arrebata meu ser. Inexplicável.
Então enfim enxergo em cores. E sei o que sinto. Compreensível, simples, palpável. Você é meu sonho… E me acalma. Me faz sorrir. E então noto enfim o que quis até mesmo quando as nuvens o turvavam em meu pensamento. Defeitos? Sempre haverá… Mas sei bem o que quero… E você… Você me faz radiante… E se faz presente enfim a claridade. E a alegria…
Mas a tormenta insiste e outra vez golpeia. Uma metáfora. Não. Nada mais que a realidade. A realidade que me cega. E a sede de vingança outra vez desperta. Você tem de mudar. Salvar a si mesmo. A mentira… A verdade! Mas você não vai desistir… Eu sei… Por mim…! Justiça. E você está aqui. Sem negar, sem hesitar… E outra vez vislumbro o sol. Porque na verdade você nunca se ausentou. Em pensamento, uma constante.
Onde você esteve? Todas as vozes, todos os sentimentos… Onde estavam eles? Você estava realmente vivo? Desperto? Prove-me. Eu necessito. Tudo passou, mas… Sempre o mas, o porém… Eu sinto. E você também sente. Porque incorrigível é o tempo que já se passou. Porque incorrigíveis são os erros que já ficaram… E porque amenizar, bem, tentar amenizar sempre pode piorar… Mas não quero outra vez experimentar o inferno em terra… Não quero outra vez estar só… Eu quero você. Eu quero te sentir. Sentir por completo. Tocar. Suspirar. Sussurrar. Respirar. Sentir-me conquistar… outra vez… Tudo. Com você. Sim. Não talvez, mas sim. Sim… Siiiim… Você ri? Não… Não! Talvez…
Não houve avisos. Aconteceu… E foi… E foi… Tão imutável quanto o passado. Fugaz como um sonho. Mas real… E aí está você… Aqui estamos… Você me desestruturou. Não, eu não estava pronta. Não para o perdão, não para reconhecer que sim… Amava. Amo. Amarei. Eu estava ciente. Não era tola. Mas não podia, não antes… Mas agora… Agora somos eu e você…
E não me importo já com nada. Vamos conversar, vamos nos encarar. E amar. Amar como no passado que eu negava em nome de um mais recente e doloroso. E vamos fazer certo. Dessa vez. Todas as vezes que vierem. E quanto mais te olho, mais me sinto perdida. Perdida em você. Entorpecida. Mas enfim diante a luz. A luz que você me trouxe. A luz que desvaneceu a escuridão a qual você próprio me havia condenado. E agora compartilhamos. As pequenas e perfeitas coisas. O dia-a-dia. O amanhecer. O anoitecer. O amar. Perfeitamente. Com nossos intrínsecos passados tortos, mas ainda sim, perfeitamente.
Thaís Gualberto
*Inicio aqui o projeto “Escrita Criativa”, para o qual escreverei textos em que cada parágrafo foi inspirado pela música que ouvia enquanto o escrevia. Para escrever “You’re my clarity” eu escutei, respectivamente: Foxes – Clarity; Jacquie Lee – Clarity; Glee Cast – Clarity; JoJo – Just a Dream; The Calling – For You; Pearl Jam – Yellow Ledbetter; Emeli Sandé – Suitcase e Natalie Imbruglia – Perfectly. E o “eu” do texto é Victoria Fernández, minha ilustre personagem de “Centelha”.
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Economista & Escritora. Apaixonada por ficção, música, política e coisas fofas. Aqui vocês terão resenhas e, principalmente, textos ficcionais escritos por esta que vos “fala”.